segunda-feira, 1 de abril de 2019

Seguindo as pegadas de Peter Pan (J.M. Barrie e a família Llewelyn Davies)



Olá!

J.M.Barrie começou a construir o personagem Peter Pan desde a morte prematura e trágica do irmão e à medida em que avançava na sua trajetória de vida, essa construção ganhava mais tijolos... A contextualização plena, a escolha do nome e todo o resto, tornaram-se finalmente possíveis a partir de 1897, quando Barrie conheceu os Llewelyn Davies durante um de seus habituais passeios no Kensington Gardens em Londres.

A família Davies é o tema deste post.


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Nos últimos anos da década de 1890 Barrie estava muito bem estabelecido em Londres: casado, excelente situação financeira, bem sucedido profissionalmente e muito bem relacionado no meio teatral, literário e na alta sociedade londrina. 

Quando conheceu os meninos George, John e Peter, Barrie os divertiu com brincadeiras, usando suas habilidades de movimentar as sobrancelhas e os olhos de forma engraçada. Porthos era coadjuvante e as crianças, obviamente, ficaram encantadas com aquele desconhecido que sabia como entretê-las, sabia como "entrar no seu mundo" e fazê-las sentirem-se realmente crianças.

Num jantar de réveillon em 1898, Barrie e a esposa, Mary Ansell, conheceram o casal Arthur e Sylvia Llewelyn Davies, e na ocasião ele então soube que ela era a mãe dos meninos e ela, por sua vez, que ele era o "desconhecido" que alegrava seus filhos no Kensington Gardens. Começava ali uma amizade e um relacionamento entre Barrie e a família Davies.



Sylvia com seus filhos George e John, 1895

Sylvia era casada desde 1892 com Arthur Llewelyn Davies, um jovem advogado.



Arthur Llewelyn Davies


Sylvia e Arthur em 1897

Sylvia, Arthur e Peter, em Julho de 1897

George, John e Peter Davies em 1900
Fotografia tirada por J.M.Barrie
Via


O "tio Jim"

Barrie e a esposa passaram a ter uma convivência constante com a família Davies. Barrie amava as crianças e elas passaram a ser parte de sua vida. Foi para eles e através deles que Barrie reviveu os poucos anos felizes de sua própria infância e "criou" um universo particular onde a infância nunca teria fim.


Dedicava-se a elas intensamente, chegando a incomodar o pai dos meninos. Não se tratava de Barrie em si, como homem, mas o que ele significava para as crianças. Arthur não aceitava bem essa proximidade que de certo modo "embaçava" seu papel de pai. Ele não tinha os predicados de Barrie no quesito diversão. Mas Arthur reconhecia e respeitava a vontade da esposa, Sylvia, que gostava muito de Barrie e, por isso, não estimulava nem desestimulava a convivência. Simplesmente decidiu não interferir.


Por outro lado, rico por causa do sucesso de suas peças, Barrie fornecia apoio financeiro aos Davies sempre que necessário, incluindo viagens ao exterior e férias, algo que não estava ao alcance dos Davies. Barrie era considerado um membro da família e passou a ser chamado "tio Jim". 

Sua presença intensa dentro da família e sua ajuda financeira acentuaram-se ainda mais quando Arthur adoeceu gravemente...

Essa convivência nutriu não apenas a carência afetiva de Barrie, permitindo a ele transitar no universo infantil que tanto amava e no universo familiar de que tanto carecia, mas também alimentou sua já fértil imaginação. Os Davies foram a família de carne e osso que forneceu a Barrie os elementos definitivos para a construção de Peter Pan, dos garotos perdidos e de suas histórias.

Desde aquele passeio no Kensington Gardens em 1897, a vida dos Barrie e dos Davies entrelaçaram-se de tal modo que os Davies seriam, por toda a vida, associados a Peter Pan e a Barrie.


Em 1900 e 1903, respectivamente, nasceram mais dois meninos na família Davies: Michael e Nicholas


Michael Llewelyn Davies
1900 - 1921
Aqui, aos 17 anos
Via

Nicholas Llewelyn Davies
1903 - 1980
Aqui, aos 19 anos

Sr. Arthur Llewelyn Davies e seus filhos, em 1904
Nicholas "Nico" (bebê de colo), John "Jack", Peter, George e Michael (na frente)

Dos cinco filhos da família Davies, Peter teve seu nome utilizado para "batizar" o personagem; George, durante algum tempo, foi o principal inspirador para a construção das aventuras de Peter Pan, mas foi Michael o menino preferido de Barrie, o que mais o inspirou - além de si próprio - para construir, digamos assim, a "alma" de Peter Pan. 

"Assim, Barrie atribui os traços de Peter Pan e os Meninos Perdidos aos cinco (...). Ele afirma: 'Eu criei o personagem Peter Pan esfregando violentamente uns aos outros, como se produz fogo no deserto esfregando duas varas. Isso é Peter Pan (...)' " (Ver nota 2)

Em 1901, Barrie levou os meninos Michel, George e Peter para viverem outras grandes aventuras no Lago Negro de Tilford (uma vila inglesa). Assim como o Kensington Gardens, o lugar possuía o cenário perfeito para simular naufrágios, "encontrar" piratas e animais selvagens. Até mesmo Porthos, o cão São Bernardo de Barrie, atuou como coadjuvante nas brincadeiras.

Essa experiência resultou num livro basicamente fotográfico, com 35 imagens coladas nas páginas. 
O livro foi editado pelo próprio Barrie, mas ele coloca o pequeno Peter LLewelyn Davies (4 anos de idade na época) como tendo sido o autor: "The Boy Castaways" 


Apenas duas cópias foram editadas: uma foi entregue ao pai dos garotos, Arthur Llewelyn Davies, que, logo em seguida, alegou ter "perdido" num trem; a outra, foi entregue à mãe dos meninos, Sylvia Llewelyn Davies e que, após sua morte em 1910, retornou às mãos de Barrie. Atualmente, esta única cópia existente encontra-se na Biblioteca de Manuscritos e Livros Raros de Beinecke, na Universidade de Yale. 

Algumas imagens, incluindo Porthos nas brincadeiras, usando máscara de tigre ou "atuando" como o pirata Swharty's¹:









No próximo post falarei sobre o "aparecimento literário" de Peter Pan.

Beijos
Ju









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¹ Caso você tenha interesse em visualizar o livro e todas as imagens, deixo aqui o link de acesso
² Conforme GARCIA, CM (2013), citado em SEGRAN, Guna / A, Miriam: Um estudo crítico de James Barrie Peter Pan. Departamento de Inglês da Universidade Ajuda, Nov. 2014, pág. 6

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