sexta-feira, 15 de março de 2019

Seguindo as pegadas de Peter Pan... (J.M. Barrie, o "pai" de Peter Pan)




Olá!

Neste post, terceiro da série "Seguindo as pegadas de Peter Pan", vou falar sobre seu autor/criador. As informações aqui contidas foram obtidas de várias fontes secundárias encontradas em diversos sites estrangeiros que tratam do assunto, dentre as quais selecionei as mais confiáveis a partir da confrontação de dados que pude fazer.

A mais completa, precisa e objetiva biografia existente é a que foi feita por Andrew Birkin e publicada pela Universidade de Yale/EUA, em 1979 (em 2003 foi publicada em formato paperbook). Infelizmente não há tradução para a Língua Portuguesa, mas, felizmente, pude ter acesso a algumas informações dessa biografia através de outros autores que a utilizaram em seus trabalhos.

Um deles é a Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo, Ana Lúcia White, que transcreveu trechos da biografia de Birkin na sua dissertação de mestrado em 2011; outro é o especialista em clássicos e fábulas norte-americano, Jack Zipes, que a utilizou para escrever o pósfacio do livro "Peter e Wendy", publicado pela editora Cosac Naify em 2004, do qual eu consegui uma versão traduzida para a Língua Portuguesa. Finalmente, Silvia Herreros de Tejada, que escreveu o Prólogo do livro "Peter Pan: la obra completa", publicado pela editora espanhola Neverland Ediciones SL, em 2009.

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James Matthew Barrie (1860 - 1937)


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"A vida é uma longa lição de humildade"
(Do livro de 1897, "Margaret Ogilvy")
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Kirriemuir é uma muito antiga e charmosa vila de ruelas estreitas e casas feitas com tijolos vermelhos. Situada na região denominada Angus, nas Lowlands escocesas, fica acerca de 130 km de Edimburgo, a capital da Escócia.

Num passado distante chegou a ser um importante centro eclesiástico e no século XIX destacava-se economicamente graças à indústria têxtil que ali se desenvolveu. Atualmente, Kirriemuir vive basicamente da agricultura e do turismo.

Uma das principais atrações turísticas da aldeia é o JM Barrie Birthplace's, ( ou Berço de JM Barrie) visitado por pessoas de todo o mundo que, de uma forma ou outra, em algum momento de suas vidas, conheceram Peter Pan.

Segundo o site de turismo masedimburgo.com

"Tudo em Kirriemuir parece gravitar em torno de James Matthew Barrie, até mesmo as lojas e hotéis, que têm nomes como The Wendy House, Ogilvy Bar (o sobrenome de sua mãe), The Thrums (o nome fictício que o escritor deu ao povo em alguns de seus romances)..."

JM Barrie Birthplace's foi, originalmente, a casa de família Barrie, onde James Matthew Barrie, autor/criador de Peter Pan nasceu e viveu durante cerca de 13 anos e que foi transformada em museu histórico em sua homenagem. Está localizada na Brechin Road, 9.

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Outras imagens interessantes podem ser apreciadas aqui

Barrie nasceu em plena Era Vitoriana, no dia 09 de Maio de 1860. Filho do casal Margaret Ogilvy, dona de casa, e David Barrie, tecelão. Além de James, o casal teve outros 9 filhos.

Seu nome do meio, Matthew, foi acrescentado em homenagem à parteira que tinha dado à luz todos os filhos, a babá Matthew.

A família não possuía muitos recursos e o pai era um trabalhador incansável, que pouco tempo dedicava aos filhos ou mesmo sequer os via, apesar de ter sua oficina no andar térreo da residência.

" Embora a família fosse grande e o dinheiro escasso, a família Barrie conservava uma independência altiva e acreditava profundamente no poder da religião e da educação para melhorar a sorte nesta terra." (ZIPES:2004)

A mãe era totalmente dedicada às crianças e

(...)" mantinha um controle cerrado sobre as crianças para garantir que se mantivessem limpas e diligentes, frequentassem a igreja todo domingo, lessem a Bíblia e se saíssem bem na escola." (ZIPES:2004)

Margaret Ogilvy e seus três primeiros filhos: Mary, Jane Ann e Alexander

Margaret Ogilvy
Ilustração de F. D. Bedford
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Barrie era um ávido leitor e cresceu ouvindo histórias contadas pela mãe ou lendo histórias junto com ela. O primeiro livro que leu foi "Robinson Crusoé" (escrito por Daniel Defoe e publicado originalmente no Reino Unido em 1719) e as histórias favoritas de sua mãe eram as escritas pelo escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894). O segundo livro foi “As Mil e Uma Noites”, uma coleção de histórias e contos populares originárias do Oriente Médio e do Sul da Ásia, compiladas em língua árabe a partir do século IX.

Barrie relembra, na biografia de sua mãe, escrita por ele:

“Além de ler todos os livros que pudéssemos alugar ou emprestar, eu também comprava um de vez em quando e, enquanto o comprava – o que levava semanas – eu lia, parado em frente ao balcão, mais outros livros na loja – que é talvez a maneira mais requintada de ler.”

Barrie também interessava-se pelo teatro e pode-se dizer que até os 6 anos de idade teve uma vida tranquila. Mas isso mudou bruscamente em 1867, com a inesperada e trágica morte do segundo filho do casal, David, aos 13 anos de idade. Era o favorito da família e por quem os Barrie nutriam grandes expectativas para o futuro, investindo fortemente na sua educação para se tornar pastor protestante.

A morte do irmão mergulhou a mãe das crianças em profunda depressão (na época era diagnosticada como "melancolia" ou "neurastenia"), da qual nunca saiu durante todos os 29 anos que permaneceu viva desde então, até sua morte em 1896.

O fato é que esse episódio trágico afetaria a família como um todo: a mãe passou a ser o centro das atenções, tendo sido cercada de cuidados o tempo todo, acompanhada de perto especialmente pela filha Jane Ann.

Margaret Ogilvy e Jane Ann

No caso de James Barrie, particularmente, a morte do irmão introjetou nele a percepção de que nem todas as crianças crescem e, de certo modo, sua infância foi interrompida ali, juntamente com a puberdade do irmão morto. Curiosamente, nem sequer na estatura Barrie cresceu: consta que aos 18 anos de idade ele não passava de 1,55 cm de altura.

Segundo consta, ele teria anotado num de seus diários:

(...) "O terror da minha infância foi saber que chegaria o momento em que teria que deixar de brincar." (...)   (Fonte)

Os anos em que Barrie conviveu com a mãe após a morte do irmão parecem ter sido fundamentais na formação de determinados traços de sua personalidade, os quais têm íntima relação com determinados aspectos da personalidade do futuro Peter Pan.

Como observou Céline-Albin Faivre:

" Barrie escreveu um belo livro sobre sua mãe, Margaret Ogilvy. (...) Acho impossível entender esse autor sem ler este livro, porque JM Barrie revela a parte mais íntima dele. Lá ele relata sua infância, a relação com as histórias que sua mãe lhe contou, sua vida na Escócia e a morte dessa mulher, que moldou seu relacionamento com todas as outras mulheres e ... com ficção. Tudo está germinando neste livro. "  (Fonte)

A biografia de Margaret Ogilvy escrita por Barrie foi publicada em 1897, um ano após a morte dela e foi dedicada à memória de sua irmã, Jane Ann.

Esta é uma das capas mais antigas. O livro ainda se encontra à venda, em diferentes edições e capas.

Fonte

Barrie inicia a biografia de sua mãe com essa lembrança:

"No dia em que nasci, compramos seis cadeiras (...) e, em nossa pequena casa, foi um evento, a primeira grande vitória da longa campanha de uma mulher; como eles tinham sido trabalhados, a nota da libra e os trinta centavos que custavam, que ansiedade havia sobre a compra, o espetáculo que elas faziam na sala oeste, a frieza natural do meu pai quando ele as trazia (mas o rosto dele era branco - ouvi tantas vezes a história depois, e compartilhei como menino e homem em tantos triunfos semelhantes), que a chegada das cadeiras parece ser algo de que me lembro, como se tivesse pulado da cama naquele primeiro momento."  Fonte

E também relata sobre o dia em que a família recebeu a notícia da morte do irmão:

"Ela tinha um filho que estava longe na escola. Lembro-me muito pouco dele, só que ele era um garoto de rosto alegre que corria como um esquilo por uma árvore e sacudia as cerejas no meu colo. Quando ele tinha treze anos e eu tinha metade de sua idade, a terrível notícia veio, e me disseram que o rosto de minha mãe era horrível em sua calma quando ela partiu para ficar entre a morte e seu filho. Nós a acompanhamos até a estação (...), e acho que a invejava na jornada nas misteriosas carroças; Eu sei que ficamos ao redor dela, orgulhosos do nosso direito de estar lá, mas eu não me lembro, só falo de boatos. A passagem dela foi tirada, ela nos despediu com aquele rosto de luta que não vejo, e então meu pai saiu do escritório do telégrafo e disse com voz rouca: "Ele se foi!" Então nos viramos muito quietos e voltamos para casa (...). Mas eu falo de boatos não mais; Eu conheci minha mãe para sempre agora." Fonte

Nos anos 1870, com o auxílio e supervisão de seu irmão mais velho, aos 8 anos de idade James Matthew Barrie deixa a aldeia de Kirriemuir para ir estudar em Glasgow. Posteriormente, aos 13 anos, vai para a cidade de Dumfries, localizada nas terras altas do Sul da Escócia.

Consta que o período em que viveu em Dumfries foi particularmente lúdico e inspirador no processo de amadurecimento de ideias e concepções que iriam influenciar sua futura carreira de escritor e dramaturgo e, sem dúvida, também na criação do seu futuro personagem Peter Pan. 

Segundo ele mesmo, os anos passados em Dumfries foram os mais felizes de sua vida.

Continua no próximo post!

Beijo
Ju




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