domingo, 12 de julho de 2020

Apaixonada por ratinhos: Raquel


Bom dia,

Ano passado tive uma verdadeira paixonite por ratinhos de tecido. Sempre achei estes animaizinhos muito encantadores, apesar de serem cercados de "poréns". Há muitas outras pessoas que, como eu, são apaixonadas por eles e esse sentimento se traduz em peças artesanais graciosas. Então decidi procurar um projeto que me agradasse para começar a confeccionar meus pequenos roedores de tecido!
Encontrei e pus mãos à obra. Fiz vários! Pretendo fazer mais, é claro, porque são simplesmente irresistíveis! 
Todos os que fiz tiveram como ponto de partida o simples gracioso projeto de Aleshkina Julia, da Altoys. Adquiri o projeto e dei asas à imaginação. Hoje compartilho aqui a ratinha Raquel, uma ratinha urbana que adora fazer compras.

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Raquel está disponível em minha loja


E você, também curte ratinhos?

Até o próximo post!

Beijo

Ju









sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Costuras Literárias: Claire Elizabeth Randall (Outlander)

Boa tarde!
Uau! E não é que se passaram 7 meses desde a minha última postagem?? Até mudou o ano, rsrsrs
Mas é assim mesmo: vamos fazendo as coisas conforme conseguimos, porque o tempo é curto e passa muito rápido e quando paramos para prestar atenção, já se passaram meses!

Ano passado comecei a me interessar por personagens da literatura mundial, aqueles que se tornaram ícones, fizeram parte da minha infância e do imaginário da maioria das pessoas que tiveram oportunidade de conhecê-los. E eis que tive a ideia de "recriar" alguns personagens em forma de bonecas (ou bonecos, ou bichinhos, depende...). 

Aqui no blog publiquei os 3 personagens recriados ano passado: Olive Oil, Pinocchio e Peter Pan.  Este ano retomei o projeto e decidi começar com uma personagem da literatura norte-americana contemporânea, a Claire, da maravilhosa saga Outlander, que está sendo escrita pela autora Diana Gabaldon

Na série Claire é magistralmente interpretada pela atriz e modelo irlandesa Caitriona Balfe.

Em 2014 a saga foi transformada em série para a TV pela Starz e dia 16/02 estreou mundialmente no canal Fox Premium a quinta temporada, correspondendo ao 5º livro da autora. Já são 8 livros publicados, sendo que no Brasil apenas até o 7 em língua portuguesa, mas a Editora Arqueiro promete lançar o oitavo ainda no primeiro semestre deste ano. Que assim seja!

Bem, meu propósito é recriar uma Claire para cada uma das temporadas e, portanto, comecei pela temporada 1.

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Minha inspiração veio do episódio 2, quando Claire, após atravessar as pedras de Craigh na Dun, percorrer as areias do tempo e desembarcar nas Terras Altas escocesas no ano de 1743, passou a ser a mais nova "hóspede" de Colum MacKenzie, líder do Clã MacKenzie e proprietário do Castelo Leoch. Nesta fase Claire ainda tinha o sobrenome do primeiro casamento, por isso o mantive:  Claire Elizabeth Randall.

doune castle (10)

Por tudo que passou até chegar ao Castelo Leoch, Claire estava praticamente esfarrapada:


 Mas logo lhe providenciaram roupas adequadas, claro, e no segundo episódio ela aparece em cena com esse look, quando estava indo ao estábulo para cuidar dos ferimentos de Jamie:
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É um traje típico escocês do século XVIII, porém com uma releitura feita pela figurinista Terry Dresbach: a Terry projetou e desenvolveu todos os figurinos de todos os personagens de Outlander nas temporadas 1 a 4, mas no caso da Claire em particular ela teve a preocupação de não perder de vista o fato de que a personagem não pertencia ao século XVIII e sim aos anos 40 do século XX. 

Partindo desse princípio, Terry teve o cuidado de incorporar elementos da época de Claire, como por exemplo bolsos nas saias. Observe que ela coloca uma das mãos no bolso lateral da saia. Por outro lado, os protetores de lã que ela usa nos braços também não fazem parte do figurino tradicional da época: eles foram adicionados para ajudar a atriz a suportar os gélidos invernos escoceses durante as filmagens.

Bem, é uma roupa linda e eu amo esse estilo. Basicamente é um corpete com amarração e mangas compridas. Por baixo ela usa a chamada "combinação", uma peça que parece um camisolão. Aqui ele aparece nas bordas das mangas, repare: aquele tecido branco. Por fim, uma ampla saia em tartan, que é um padrão quadriculado de estampas, composto de linhas diferentes e cores variadas, típico da indumentária escocesa, como o kilt, por exemplo.

Caitriona Balfe é uma mulher alta, magra e de pescoço longo. Quem melhor que Tone Finnanger para me inspirar ao escolher o corpo da boneca para minha Claire? Ninguém, é claro! E assim foi: escolhi um dos modelos de boneca Tilda mais alongados, com quadris largos e cintura fina para ser a minha Claire.

O próximo passo foi escolher os tecidos. Para o corpete usei veludo cotelê e para a saia, uma flanela linda com padrão de xadrez em tons de azul, verde e detalhes em vermelho e branco. A peça que fica por trás dos cordões é linho puro com manta e quiltado em linhas retas.

Para os sapatos que compõem o look da foto, usei lã penteada de ovelha e os feltrei nos pezinhos da boneca. Os sapatos originais são esses:



Os meus ficaram assim:


Poderia ter feito bem pontudo nas pontas, tal e qual os originais? Poderia, mas não gosto. Ficam parecendo sapatos de elfo...

Bem, e quanto ao restante da minha Claire?
Eis!





 Se a roupa que a Claire usou na cena em que ela vai ver o Jamie nos estábulos foi a inspiração para a minha boneca Claire, a posição postural foi inspirada por outra cena do mesmo episódio: quando Claire encontra Geillis pela primeira vez, nos arredores do Castelo Leoch, quando saiu à procura de suas amadas plantas e ervas medicinais:


Assim, fiz minha Claire com a mãozinha apoiada no pescoço e a cabeça levemente inclinada para o lado!

 
Foto autoral

 Foto autoral

Foto autoral

O volume atrás é típico das roupas femininas de antigamente (muito antigamente...) é resultado de um acessório que fica por baixo da saia ou vestido. Aqui é conhecido como "anquinhas". Existiram de vários tipos e formatos. Alguns avolumavam o bumbum e os quadris, outros os quadris e assim por diante. Este avoluma quadris e bumbum. Amei o efeito na boneca!!

 Foto autoral

Foto autoral

Foto autoral

E assim foi!
Agora estou mergulhada em projetos para a Claire da temporada 2!

Aguardem!

Bom fim de semana, bom feriado e fiquem com Deus!

Beijo

Ju



sexta-feira, 19 de julho de 2019

Sarita, a ranita

Olá, bom dia!

Ando empolgada com bichinhos de pano antropomórficos e parece que é uma tendência no universo craft mundo afora, o que é muito bom! Bichinhos cuja aparência evoca atributos humanos e, no caso, isso se expressa através das "roupinhas de gente" que vestem os bichinhos. 

Embora seja uma tendência relativamente recente no universo craft, é uma prática bastante antiga, presente na literatura, no cinema, no teatro, nos quadrinhos e desenhos animados. 

Como sabem, estou sempre à procura de ideias e inspirações para sair do lugar comum... Volta e meia encontro o que quero e ponho mãos à obra!

Desta vez nasceu Sarita, que, como diz uma querida amiga: "Sarita, a linda ranita!" (Né, Simone Lopes? Beijocas!!!)

Sarita é uma adorável rãzinha que amei fazer e compartilho aqui com vocês, mas ela também está no Instagram e no Facebook.

E também está à procura de um novo jardim para morar!
Quem sabe é você que levará Sarita para sua casa? :)

Tenham uma ótima sexta-feira!
Beijocas
Ju

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Sarita foi feita em linho puro em 2 cores: Erva Doce e Tiffany Cortez
A capa, reversível, com estampa de flores e morangos em algodão nacional e o reverso, em linho puro Off White. O laço é feito com uma fita da marca Tilda
O vestidinho é reversível: tecido liso 100% algodão importado e o reverso, idêntico à estampa floral da capa

Na parte de trás do vestidinho, 2 micro botõezinhos em formato estrelinha, importados. Veja as setas
Esse vestidinho pode ser colocado com os botões para frente ou para trás, como preferir. Repare que a abertura é lateral, agregando charme à roupinha!

E aqui, Sarita com o primeiro look!

As mesmas peças, no reverso, compondo um segundo look para Sarita

No reverso do vestidinho, também há 2 micro botões, em formato florzinha, na cor verde claro. Veja as setas

E aqui a Sarita, no seu segundo look!

E quase ia esquecendo... Os olhinhos da Sarita são bordados!

Caso tenha interesse em levar Sarita para seu jardim, varanda ou jardim de inverno, entre em contato!

Até a próxima!

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Design e projeto: Tatyana Maximenko. Todos os direitos reservados. Os moldes não podem ser compartilhados.


segunda-feira, 15 de julho de 2019

Coelhinha na cesta

Olá!

Sou fã de algumas artesãs e designers que me inspiram muito e uma delas é a Tatyana Maximenko. Muitíssimo talentosa, a Tatiana desenvolve projetos adoráveis, disponíveis em sua loja e um deles eu reproduzi e compartilho hoje aqui no blog.

Uma coelhinha muito fofa, bem acomodada em sua cesta de dormir!
Não executei o projeto à risca e me refiro especialmente ao edredom. Ele é feito com recheio de manta, depois quiltado a máquina e recebe um viés em toda a volta. Experimentei e achei que ficou rígido demais para o meu gosto, então decidi fazer bem mais simples: sem a manta, sem o quilt e sem viés. Dispensei o viés porque não dispunha de um xadrez semelhante ao projeto original. Mesmo assim, gostei do resultado.
Esse fiz para meu ateliê, mas em breve outra coelhinha na cesta estará disponível na minha lojinha.

Desejo uma feliz semana para todos que por aqui passam!

Beijinho

Ju

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segunda-feira, 1 de julho de 2019

Para saudar a chegada de Julho: Rebeca



Olá, bom dia!

E Julho chegou, anunciando que já estamos no sétimo mês do ano, UAU! E para dar as boas vindas a este mês tão bonito, ontem passei o dia às voltas com uma bonequinha nova, inspirada no design de artesãs da Rússia, Noruega, Polônia e Moldávia. Assim nasceu Rebeca!

Espero que gostem!

Bem vindo, Julho, com a graça de Deus!

Uma ótima semana para todos que por aqui passam.

Beijoca

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Rebeca









segunda-feira, 24 de junho de 2019

Seguindo as pegadas de Peter Pan (..."enquanto isso Cynthia Asquith começou a governar o poleiro.")



Olá!

A frase: "enquanto isso Cynthia Asquith começou a governar o poleiro." foi dita por Nicholas (Nico) Llewelyn Davies numa das longas cartas que escreveu para Andrew Birkin, um dos biógrafos de James Barrie.
Essa carta, entre outras que Nico escreveu em meados e fins dos anos 1970, faz parte dos arquivos que compõem o banco de dados mantido por Birkin. Esse banco de dados reúne milhares de documentos referentes à James Barrie,  à família Davies e à Peter Pan, contendo fotografias, cartas, áudios, cadernos de anotações, entre outros.

Nicholas era o mais novo dos irmãos Davies e, segundo ele, Lady Cynthia Asquith passou a "governar"a vida de Barrie desde que assumiu a função de secretária particular do escritor em 1918.

A presença de Cynthia na vida de Barrie teve desdobramentos que trouxeram infelicidade para os rapazes Peter, John e Nicholas.

Mas quem foi esta mulher?

Lady Cynthia, em 1915

Lady Cynthia foi uma escritora e socialite inglesa, nascida em 1887. Era casada com o poeta Herbert Asquith, filho do Primeiro Ministro britânico na época, com o qual teve 3 filhos.
 Lady Cynthia é descrita como sendo uma bela mulher, muito bem relacionada e bastante requisitada.
Tornou-se conhecida (até os dias atuais) por suas histórias de fantasmas, livros infantis, romances e diários.
Em 1918, Cynthia voluntariou-se para ajudar a cuidar dos feridos de guerra que eram atendidos no Hospital de Winchcombe, próximo à propriedade de sua família. Fazia isso quinzenalmente e gostava do seu trabalho.
No mesmo ano seu marido retornou muito debilitado da guerra, incapaz de trabalhar e, para complementar a renda da família, Cynthia aceita o emprego de secretária particular de James Barrie, dedicando-se a organizar sua vida social e pessoal e tornando-se seu esteio emocional até sua morte.
Mas em 23 de Junho de 1918, Cynthia escreveu desdenhosamente no seu diário:

"Imaginar-me como secretária de Barrie me faz rir e vou me divertir até o dia da minha morte." (Veja nota 1)
Ela precisava do trabalho e Barrie precisava do seu glamour.

O escritor DH Lawrence, que também sucumbiu aos encantos da socialite, escreveu:

"Há algo nela que me lembra o mar. É frio e tem uma paixão que, como o sal, queima e corrói." (Veja nota 3)

Segundo Jack Zipes,

"Lady Cynthia também representava uma substituta da falecida Sylvia Llewelyn Davies. Entretanto, o papel que desempenhava era outro. Assim como Barrie invadiu e tomou conta da vida e da família dela [de Sylvia], Lady Cynthia também assumiu o poder sobre ele, e tornou-se responsável pela organização da vida de Barrie, especialmente durante a década de 1930."

Os filhos do casal Asquith preencheram, de certo modo, o lugar que os meninos Davies deixaram por terem crescido ou morrido. Dos cinco, estavam vivos apenas Peter, John (Jack) e Nicholas (Nico), já adultos e seguindo suas vidas sob supervisão de Barrie, mas ele não conseguiu manter controle absoluto sobre eles.


Peter Llewelyn Davies

Peter era um bebê com menos de 1 ano de idade quando Barrie o conheceu, em 1897, no Kensington Gardens. O primeiro nome do personagem Peter Pan foi inspirado em Peter Llewelyn Davies, fato que o atormentou durante boa parte da vida. Peter não gostava do personagem e odiava o fato de seu nome estar, para sempre, associado a ele. Não apenas seu nome em particular, mas a família toda. Peter se referia à Peter Pan como sendo uma "obra-prima terrível."

Quando Lady Cynthia começou a trabalhar para Barrie em 1918, Peter estava com 21 anos, mas a relação entre ele e Barrie havia sofrido uma fissura, digamos assim. Em 1917, durante uma licença militar, Peter conheceu e relacionou-se com Vera Willoughby, pintora, ilustradora e figurinista húngara, uma mulher 27 anos mais velha que ele, casada e cujo filho era mais velho que o próprio Peter. 

O fato foi pessimamente visto por Barrie e também pela ex-babá de Peter, Mary Hodgson. Ambos fizeram forte oposição ao relacionamento, mas Peter o manteve mesmo assim pelo menos até o fim do serviço militar em 1919, ao que se sabe.

John (Jack) Llewelyn Davies

John (Jack) tinha 3 anos de idade quando conheceu Barrie em 1897 no Kensington Gardens e foi uma das inspirações para os personagens masculinos de Peter Pan. Em 1906, quando tinha 12 anos de idade ingressou no Royal Naval College, em Osborne, com a ajuda de Barrie. Dos meninos Davies ele foi o único que não frequentou o Eton College.

Dos cinco irmãos, John foi o que menos esteve próximo a Barrie, especialmente após seu ingresso no Colégio Naval: as férias escolares dele não coincidiam com as férias escolares dos outros irmãos, então dificilmente ele estava presente nas programações de viagens que Barrie organizava nesses períodos. 

Pouco antes da morte da mãe, Sylvia L. Davies, em 1910, John graduou-se oficial da Marinha Real Inglesa e serviu no Atlântico Norte durante a Primeira Guerra Mundial. John adorava a mãe e idolatrava o pai e nunca aceitou a presença de Barrie dentro de sua família, especialmente após a morte do pai em 1907. Na opinião de John, Barrie desejava ocupar o lugar do pai, algo que ele nunca aceitou, mesmo que não tenha sido verdade. 

Aos 19 anos John casou-se com Geraldine Gibb, sem pedir o consentimento de Barrie. Mesmo assim, o ainda tutor dos Davies entregou a ele e à esposa a casa da família Davies. A casa estava, até então, sob a responsabilidade da ex-babá dos meninos, Mary Hodgson (a mesma que Barrie conheceu em 1897 no Kensington Gardens) e Michael e Nicholas permaneciam lá durante as férias, quando não estavam viajando com Barrie.

Em pouco tempo surgiram desentendimentos entre Mary Hodgson e a esposa de John, resultando no pedido de demissão de Mary, após longos anos de convivência e cuidados com a família Davies.

Nicholas (Nico) Llewelyn Davies

Nicholas (Nico) foi o caçula dos meninos Davies e quando Barrie contratou Lady Cynthia, ele tinha 15 anos de idade. Era muito apegado a Barrie e já adulto morou com ele durante cerca de 5 anos, até se casar em 1926 com Mary James, filha do 3º Barão de Northbourne. 


Na imagem abaixo vê-se James Barrie e Nicholas Llewelyn Davies (à direita), 
em 1922. O garotinho à esquerda é um dos filhos de
Lady Cynthia.



Apesar de ser o mais jovem dos Davies e de ter tido pouco influência inspiradora para Barrie, se comparado a seus irmãos George, John, Peter e Michael, Nicholas adorava Barrie. Mas isso não impediu que ele revelasse ao biógrafo Andrew Birkin anos mais tarde, após a morte do escritor, seus ressentimentos. Primeiro, ressentia-se do fato de que apesar de ser conhecedor do assunto, nunca foi convidado por Barrie para participar como consultor nas decisões referentes ao elenco e ao gerenciamento das peças de teatro. Segundo, Nicholas ressentia-se do fato de ter perdido seus direitos à herança que Barrie teria destinado a ele e suas futuras gerações em testamento. (Veja nota 3)

Assim, Barrie permanecia no papel de tutor dos rapazes quando Lady Cynthia começou a trabalhar para ele.
A juventude e o glamour dessa mulher eram importantes para Barrie e ela, de fato, representou um importante papel na vida dele, mantendo-o ativo e em contato com o mundo.

Foi graças a ela que Barrie, nos anos 1920, fortemente abalado com a perda de Michael, saiu do quadro depressivo e voltou a escrever, publicar, ministrar palestras, participar de eventos sociais e monitorar as vidas dos "garotos" Davies ainda vivos: Peter, Jack (John) e Nico (Nicholas).

A família de Lady Cynthia passou a ser a família de Barrie e a presença dela na vida dele traria desdobramentos futuros que traduziram bem a personalidade da socialite inglesa: oportunista. Mas ele nunca soube o que ela fez.

Na década de 1920 três importantes acontecimentos envolveram a obra "Peter Pan":

Em 1924 a Paramount Pictures fez a primeira adaptação cinematográfica do romance, nos Estados Unidos, dirigido por Herbert Brenon. Na época os filmes eram mudos, como se sabe.

Cartaz original do filme

Diferentemente da produção de Walt Disney anos mais tarde, em 1953, o filme da Paramount Pictures seguiu atentamente o argumento da peça original.

Estreou nos Estados Unidos em 29 de Dezembro de 1924 e na Alemanha, em Dezembro de 1925, distribuído pela Universum Film AG. (Veja nota 4)

Aqui você pode assistir ao filme completo, se quiser:



Em 1928, Barrie finalmente termina a versão definitiva da peça de teatro "Peter Pan", reunindo num único volume as múltiplas versões que o autor havia escrito ano após ano.

Finalmente, o terceiro acontecimento envolvendo a obra "Peter Pan" ocorreu em Abril de 1929, quando Barrie doou todos os direitos sobre ela para o "Great Ormond Street Hospital", em Londres. Uma instituição dedicada aos cuidados com a infância. (Veja nota 5)



Estátua de Peter Pan nos jardins do hospital, de autoria de Diarmuid Byron O'Connor:



Nos anos 1930 a saúde física e emocional de James Barrie estava bastante debilitada e o escritor sofria com crises de depressão. Nos períodos entre uma e outra se mostrava uma pessoa de trato muito difícil. Lady Cynthia, embora também doente, era a pessoa que os rapazes chamavam para cuidar de Barrie. O autor havia se recolhido ao seu apartamento, de onde raramente saía nos últimos anos.

Lady Cynthia (de perfil) e James Barrie
Crédito: Maria Evans
Sem data

Barrie estava se dedicando a uma nova peça de teatro, "The Boy David", que estreou em 1936 em Londres e em Edimburgo, mas não teve grande repercussão. (Veja nota 6)

Em 13 de Junho de 1937 seu estado de saúde agravou-se por conta de uma pneumonia e Barrie estava sendo cuidado por Peter e Nicholas Davie. Lady Cynthia estava viajando.

E naqueles últimos dias de James Barrie, Peter tomou a iniciativa de avisar Lady Cynthia sobre o estado crítico em que o escritor se encontrava (mesmo não gostando dela). A socialite, então, viajou por toda uma noite de onde estava até Londres, para estar perto de Barrie nos seus instantes finais. Porém, as reais intenções de Cynthia eram outras. Com o auxílio de um advogado e do próprio médico de Barrie, ela fez com que fosse possível Barrie assinar uma revisão do próprio testamento e essa revisão garantiu a Lady Cynthia e sua família receberem a maior parte de todo o patrimônio de James Mattew Barrie, em detrimento dos legítimos herdeiros - por moral e por justiça -, que seriam os meninos Davies ainda sobreviventes. Exceto, é claro, os direitos relacionados à obra "Peter Pan", que haviam sido doados ao hospital em 1929.

Em uma entrevista dada ao biógrafo de Barrie, Andrew Birkin, Nicholas Davies disse que chamar Lady Cynthia foi a pior decisão que seu irmão Peter poderia ter tomado.

Poucos dias depois, em 19 de Junho de 1937, James Mattew Barrie faleceu.
Seu corpo foi sepultado na sua cidade natal, Kirriemuir, ao lado da mãe, do pai e dos irmãos.


Dos três irmãos sobreviventes da família Llewelyn Davies, John (Jack) faleceu em 17 de Setembro de 1959, aos 65 anos de idade.

Peter Llewelin Davies cometeu suicídio em 5 de Abril de 1960, aos 63 anos de idade, jogando-se sob um trem. Cinco dias após a morte de Lady Cynthia Asquith. Peter era editor (graças ao apoio de Barrie), casado, tinha filhos. O suicídio de Peter teve várias motivações, mas não entrarei em detalhes aqui.

Nicholas (Nico), faleceu em 14 de Outubro de 1980, aos 76 anos de idade.

E aqui termina essa história que até os dias atuais chama atenção de autores, psicólogos, literatos, e cientistas.
E isso não é tudo. Longe disso. Há muito para se escrever sobre o assunto, muito mesmo.
Todo o material que reuni ainda permite vários e vários posts, mas me limito a terminar meu trabalho aqui, pois meu objetivo já foi alcançado: seguir as pegadas de "Peter Pan" para penetrar nos meandros de suas origens, a fim de compreendê-lo corretamente.

Barrie se foi, mas sua maior criação está viva dentro daqueles que ainda mantém dentro de si a eterna criança.
Não se deixe influenciar por Walt Disney e nem por nenhuma outra grande produção cinematográfica sobre "Peter Pan" se quiser compreendê-lo realmente. Seria um erro. Se você realmente quiser conhecer e compreender o personagem, terá de seguir suas pegadas...

Em todos os posts que publiquei aqui, há muitas referências de pesquisa, seja nas notas de rodapé, seja no corpo do texto, seja nos links vinculados às imagens que anexei. Mas caso você tenha interesse em mais alguma informação, fique à vontade para me enviar uma mensagem.

James Mattew Barrie
(1860 - 1937)

Via




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Notas:
(1) Conforme GOSÁLVES, Patricia. "Lady Cynthia Asquith. A aristocrata e o velho Peter Pan", in: Jornal O Pais. 30/06/2017.
(2) Idem.
(3) A questão relativa à perda da herança foi causada por Lady Cynthia Asquith.
(4) Para mais informações sobre o filme, acesse:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Pan_(filme_de_1924)
(5) Para mais informações sobre o hospital e sobre questões envolvendo o copyright, acesse:
https://en.wikipedia.org/wiki/Great_Ormond_Street_Hospital
(6) "The Boy David", 1936, tem como enredo uma drama filosófico baseado na vida de Davi antes de se tornar rei de Israel.


quarta-feira, 1 de maio de 2019

Seguindo as pegadas de Peter Pan (Quando a morte molda a vida...)



Olá!

Na peça de teatro "Peter Pan, ou o menino que não cresceria" que estreou em Londres em 1904, numa das falas de Peter há uma frase que se tornou célebre e foi incluída no romance de 1911:

"Morrer será uma grande aventura". 

A frase foi originalmente dita por George Llewelyn Davies, o mais velho dos meninos Davies, numa das ocasiões em que Barrie contava aos garotos as histórias em que Peter Pan levava para a Terra do Nunca os bebês que morriam. Foi uma das frases que Barrie registrou em seus tradicionais cadernos de anotações.

Embora tenha se tornado "uma das linhas mais memoráveis de Peter Pan", segundo Andrew Birkin, um dos biógrafos de Barrie, ela teve de ser retirada da peça em 1914, quando as notícias de jovens morrendo nos campos de batalha da recém iniciada Primeira Guerra Mundial (1914-1919) começaram a chegar a Londres.

A morte é um fato da vida, todos sabemos, porém, no caso de Barrie não é exagero dizer que a morte "moldou" a vida dele de um modo particular que chama a atenção e é mencionado em diversas fontes que consultei.
Desde os 6 anos de idade, quando seu irmão David (o favorito da família) perdeu a vida tragicamente num acidente de patinação em 1867, Barrie foi acumulando perdas que marcaram profundamente sua passagem pela vida e seus escritos. (Veja nota 1)

  Em 1895 outra irmã de Barrie, Jane Ann, faleceu aos 48 anos de idade. Jane Ann dedicou a vida a cuidar da mãe que viva mergulhada em depressão; em 1897 Margaret Ogilvy Barrie, a mãe, faleceu; em 1902 Barrie perde o pai David Barrie; no mesmo ano, outra irmã, Isabella Ogilvy Barrie; em 1903, mais uma irmã, Sarah Mitchell Barrie. (Veja nota 2)

Em 1906, Barrie amargaria a morte de seu agente, Arthur Addison Bright. Bright cometeu suicídio após a descoberta de que havia se apropriado indevidamente de 28.000,00 Libras pertencentes a Barrie.

Em 1913 Barrie foi condecorado com o título de Baronete, passando a se chamar Sir James Barrie e àquela altura, dos 12 membros que compunham sua família imediata, restavam somente três vivos além dele mesmo: seu querido irmão Alexander (Alec) Ogilvy Barrie, Mary Ann Galloway e Margareth Henderson.

Na família que Barrie havia adotado como sua, os Llewelyn Davies, sofreu enormemente a perda de
 Arthur, em 1907 e mais ainda a de Sylvia, em 1910, os pais dos meninos que inspiraram Peter Pan dos quais Barrie tornou-se um dos tutores em 1911.

Em 1914 Barrie sofreu outro golpe: seu irmão querido,  Alexander (Alec) Ogilvy Barrie falece aos 72 anos de idade. Alec teve um papel muito importante na juventude de Barrie, responsável por sua educação até sua mudança definitiva para Londres.

Em 1915, George Llewelyn Davies, o mais velho dos meninos Davies, perdeu a vida no campo de batalha em Flandres, na Bélgica, após ser atingido por um tiro na cabeça durante a noite. Ele e o irmão Peter haviam se voluntariado para combater no front quando o Reino Unido entrou na Primeira Guerra Mundial. Tinha apenas 21 anos de idade.

George foi o primeiro menino que Barrie conheceu em Kensington Gardens em 1897, juntamente com seus irmãos John e Peter.

Aqui, ilustração de Arthur Rackham (1906)
George inspirou o personagem David, em Peter Pan in Kensington Gardens
Via

George, em 1906, com seu coelho "Mr"

George em 1912, aos 18 anos de idade
Último ano no Eton College

George em 1914, numa produção teatral do
Amateur Dramatic Club

George em Julho de 1914

O personagem George Darling, pai de Wendy, Michael e John no romance Peter & Wendy
 teve seu nome inspirado por George. A morte dele abalou profundamente James Matthew Barrie e o único consolo do autor foi saber que o jovem George, a julgar pelo conteúdo de uma carta que Barrie escreveu para seu amigo Charles Turley Smith, morreu sem sofrimento:

"Apenas uma palavra para dizer que George foi morto instantaneamente. Foi um ataque noturno. Recebi uma carta dele dois dias depois de saber que ele estava morto. (...) Eu sinto dolorosamente por Peter, entre quem e George houve uma devoção que talvez não seja muito comum entre irmãos." (Veja nota 3)

Ainda em 1915, Charles Frohman, o produtor da peça Peter Pan, estava a caminho de Londres para um encontro com Barrie, mas perdeu a vida à bordo do luxuoso transatlântico Lusitania, que foi torpedeado por submarinos alemães e naufragou, matando 1150 pessoas.

O Lusitania, durante o naufrágio
Arquivo Federal Alemão, ID: DVM 10 Bild-23-61-17

Seis anos depois, em 1921, outra tragédia se abateu na vida de Sir James Barrie: Michael Llewelyn Davies, o preferido de Barrie, o menino que definitivamente inspirou Peter Pan e com o qual o escritor estabeleceu fortes laços ao longo da vida e nutria grandes expectativas profissionais futuras, afogou-se no Sandford Lasher, um trecho do rio Tâmisa localizado a poucos quilômetros de Oxford.

Michael tinha 20 anos de idade e na ocasião do afogamento estava com seu amigo, Rupert Buxton, que também morreu. 

Relatório do jornal sobre o afogamento dos jovens
Via

Segundo o biógrafo de Barrie, Andrew Birkin, e um artigo do "Oxford Chronicle" referente ao inquérito do médico legista,

"A água tinha de 20 a 30 pés (6 a 9 m) de profundidade, mas calma. Buxton era um bom nadador, mas Davies tinha medo de água e não sabia nadar com eficiência. Uma testemunha no inquérito do legista relatou que um homem estava nadando para se juntar ao outro, que estava sentado em uma pedra no açude, mas experimentou "dificuldades" e o outro mergulhou para alcançá-lo. No entanto, a testemunha também relatou, quando ele viu suas cabeças juntas na água, elas não pareciam estar lutando. Seus corpos foram recuperados "juntos" no dia seguinte (às vezes, erroneamente relatados como "amarrados juntos"). A conclusão do legista foi que Davies se afogou acidentalmente, e Buxton se afogou tentando salvá-lo." (Veja nota 4)

Michael e sua mãe, Sylvia em 1905
Fotografados por James Barrie
Via


Michael em 1906 (6 anos de idade)
Fotografado por James Barrie
Via

Michael, usando trajes de Peter Pan numa das poses para
a futura estátua que seria colocada no Kensington Gardens em 1912
Via

JM Barrie como Hook e Michael como Peter Pan, no
gramado de Rustington, em 1906


Michael, aos 17 anos
Via

 Segundo Jack Zipes, a morte de Michael,

"foi especialmente devastadora para Sir James Barrie. (...) Perdeu a alegria de escrever para o palco, pois nunca se conformou com a morte de Michael. (...) Os poderes criativos de Barrie tinham chegado ao fim."

Mas nem tudo estava totalmente perdido. Alguns anos antes, em 1917, Barrie havia conhecido Lady Cynthia Asquith e este será o assunto do próximo post.

Até lá!
Beijo
Ju


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Notas:
(1) Antes do nascimento de James Matthew Barrie em 1860, duas de suas irmãs já haviam falecido, ambas no ano de 1851: Elizabeth How Barrie (aos 2 anos de idade) e Agnes Matthew Barrie (com 1 ano de idade). 
(2) Todos os dados referentes à família imediata de Barrie foram obtidos no excelente site genealógicohttps://www.geni.com, com exceção de Margareth Henderson, da qual não encontrei nenhuma informação.
(3) http://www.jmbarrie.co.uk/view/3384
(4) https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Llewelyn_Davies